"Não sei se as pessoas choram de formas diferentes umas das outras, eu choro contraída, como se alguém me tivesse perfurado a alma com uma lâmina enferrujada, choro como quem implora, pare, não posso mais suportar, mas o insuportável é uma medida que nunca tem limite, eu chorei no Domingo, na Segunda, na Terça, em várias partes do dia e da noite, um choro de quem pede clemência, de quem está a ser confrontado com a morte, estava a abandonar uma vida que não teria mais, eu sofria a minha própria despedida, morte e parto, eu tinha que renascer e não queria, não quero, sinto que caí num vácuo, perdi a parte boa da minha história, e não quero outra, enquanto choro penso que se alguém me visse a chorar desta maneira, salvaria-me, prestaria socorro, chamaria uma ambulância, eu nunca te vi chorar, alguma vez choraste por mim, sofres a minha ausência, sentes a minha falta? Estar sozinha nesta aflição condói-me de mim mesma, é o labirinto do inferno, não há saída, não há saída, não estás à minha espera lá fora, nem hoje, nem amanhã, não vais fazer nenhum gesto para me resgatar, e se fizesses eu não ia estender a minha mão, e é isso que me faz descrer de tudo, eu sei que acabou, eu estava infeliz ao teu lado, eu estou infeliz sem ti, mentira, eu era feliz do teu lado, e nem sei se a palavra certa é essa, feliz."

- Martha Medeiros

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«Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente!»

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