"Hoje pensei em partir.
Assim, sem dar adeus, sem escrever bilhetes de despedida, só ir. Deixar para trás tudo aquilo que antes me foi combustível, que me fazia entrar em chamas só pelo facto de estar perto. Não borrar mais as paredes da rua por onde passo, dos cadernos onde avisto, dos guardanapos em que me distraio, não compor mais canções - nem que as dedique. Não mais fazer poemas esperando a aprovação de bons autores, não mais caminhar em busca de caminhos nunca percorridos por ninguém antes. Não mais me manter de pé para os que me empurram para o abismo de dor. Não mais tentar amar em cada passada, ou cada tropeço. Não chorar pelo que nunca vivi, não acordar mais assustada com sonhos que sempre sonhei ter. Não ser o alguém que nunca veio, ser a ninguém que nunca vai. Não ser acompanhada pelo medo, que me tem como refém. Jogar-me no mar, sair de lá a morrer com os pulmões afogados de imensidão, ou nadar, enfrentar a fúria que se transforma em poça de água."

Hélida Carvalho

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«Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente!»

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