"Não há uma só vez em que eu te olhe e não tenha a certeza de que é esse o amor que outrora cantavam os meus avós. Um olhar com som de violão, e sinto que nele caberia o coro nunca esquecido que as gargantas roucas e afinadíssimas entoavam. Desejo, por isso, mantê-lo aceso, e conservá-lo em pequenos frascos, para que sejam abertos quando o tempo nos abraçar também, e uma nova canção nascer com alma já envelhecida. Um amor com gosto de vinho, para que nos embebedemos à toa, dancemos com as mãos repousadas nos ombros e cinturas quando não houver mais melodia para acompanhar; para que sintamos o vento mesmo com as janelas fechadas. Um amor que nos aqueça quando nos calarmos, nos tape os olhos e nos empurre ladeira abaixo, e que nos adormeça o corpo para rolarmos , cairmos, pularmos, enquanto a bebedeira toma conta do coração. Um amor que nos embriague quando estivermos velhos, e faltar a força, o apetite, a postura - que nos baste, quando não houver nada além de uma simples canção guardada há muito tempo."

Neemias Melo

Sem comentários:

Enviar um comentário

«Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente!»

Obrigado pelo comentário*