"Sobraram-me quatro estações para aprender a viver. Cobraram-me as estações e iniciei tentando ser Primavera. As flores pernoitando tristeza adentro, lagartas matando a sede em orvalhos, piscinas transbordando sorrisos de crianças e frutas gastando mel. No fim das folhas, veio a tentação de ser Verão e reluzir o calor escaldante dos corpos apaixonados. Contudo, fui fraca para aguentar as constantes ferroadas que me sangravam os olhos. Fiz florescer e derreter tantas felicidades alheias que a minha esmoreceu como o Outono. Troquei o açúcar descontrolado pelo azedume de um diabético, fui de um pólo a outro andando a pé. Insectos comiam a minha língua, galhos secos serviam de suporte para sementes murchas como o meu coração. O pulmão reclamava por ter que carregar nos ombros todo o ar pesado de quem acabara de abandonar a primavera. E não demorou muito para que o juízo hibernasse em consequência dos meus pensamentos enfadonhos e repetitivos. Das quatro estações, queimei três no fogo de quem anseia sempre por mais sorrisos. Congelei fotos, memórias, enevoei o Sol do «bom dia» e resumi o prazer a um chocolate quase quente derretendo na boca ressecada pelo vento impiedoso. Talvez ainda guarde as quatro opções, as quatro faces de ser feliz. Se mais meses do ano eu tivesse, escolheria ter pintado o céu com mais alegres cores, além do rosa primaveril, do laranja outonal, do dourado-verão e do cinza infernal de quem cedeu a tristeza de ser um eterno inverno esquecido como última opção."

- Layla Rocha

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