"Mas eu amei-te, mesmo por causa daquele segundinho, o segundinho em que a chavinha virou para a direita. O segundinho da pizza e do interfone. E assim foi, por quase dois anos. Eu perguntava-me quando isso teria fim. Motivos profundos, nobres e óbvios para deixar de te amar também não me faltaram, mas nenhum deles foi suficiente ou funcionou
Acompanhas-te com olhos humildes e humilhados todos os passos da tua ex naquela festa e eu continuei a amar-te. Confundis-te Chico com Vinicius e eu continuei louquinha por ti. Tinhas aquele problemazinha de não segurar o prazer e o meu maior prazer sempre foi qualquer segundinho do teu lado. Largaste-me sozinha naquele hospital, com a minha mãe sem saber se tinha ou não metástase, e foste para a praia com os teus amigos bombásticos. E eu, no fundo, perdoava-te, entendia-te e amava-te cada vez mais. Mandaste-me embora da tua casa, do teu carro, da tua vida, da memória do teu computador, do teu telemóvel e do teu coração. Eliminaste-me. E eu passei quase um ano quieta, esperando, rezando para Santo António te ajudar a ver que amor maior no mundo não poderia existir. Eu segui amando e redesenhando cada dobrinha da tua pele, cada cheiro escondido nos seus cantinhos, cada cílio torto, cada risada alta, cada deslumbre puro com a vida, cada brilho nos olhos quando o mar estivesse bonito de mais. Cada preguiça, cada abandono, cada estupidez, cada limitação, cada bobeira. 
Amava os teus erros, assim como amava os acertos, porque o que eu amava, enfim, eras tu."
(Tati Bernardi)

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«Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente!»

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